quarta-feira, 26 de novembro de 2008

Hoje eu vim reclamar. Há algum tempo me rebelei contra essa mania chata de hiperhigienização de tudo. Sempre achei um saco todo o processo de limpeza de folhas de salada e frutas, e como essa é uma tarefa do membro da família que tem a menor jurisdição na cozinha, sempre foi tarefa minha. Depois que me casei, passei o fardo para o Marido, que DETESTAVA a chata tarefa de separar a infinidade de folhas, ramos e frutas, lavar uma a uma, deixar de molho no cloro, escorrer, lavar com água filtrada, pôr na centrífuga de saladas, forrar o pote com papel-toalha e trocá-lo de dois em dois dias para a quantidade infinita de folhas não estragar (odeio jogar comida fora!). E como a família é menor e só uma refeição é feita em casa por dia, a chance de não darmos conta de comer tudo a tempo é grande. Para piorar a situação, Marido cresceu comendo lasanha Sadia, esfirra congelada e bife com batata frita congelada, ou seja, salada não está em seus hábitos como está nos meus.

Notei, muito chateada, que diminui meu consumo de saladas cruas para não ter que jogar comida fora e então... cansei. Passamos a vida inteira tomando gemada, comendo marshmellow caseiro, lambendo as pás da batedeira, comendo ovos quentes, mas agora não pode comer gema crua! Sempre lavamos as folhas das saladas, mas agora temos que fazer todo esse processo que só diminui o nosso consumo de saladas. A cada dia, temos notícias contraditórias que se sucedem como a de que ovo só se consome 1 vez por semana por causa do colesterol, depois que podíamos até 2 por dia, e depois 3 por semana...

Não suporto mais o controle que os grupos médicos e científicos assumiram sobre algo que aparentemente sempre foi tão simples: com uma dieta equilibrada em quantidade, com a maior variedade possível de alimentos e formas de preparo e o mais próxima possível de seu estado original, você consegue uma ótima alimentação.

Comida não é só números de proteínas, carboidratos, vitaminas... é o copo de leite morno antes de dormir, o purê de batata com alho quando se está com amigdalite, o bolo de banana invertido do lanche de domingo... Que fragmentação da minha comida é essa?

Decidi que compro alface orgânico e não pré lavado com cloro, e fico feliz se ao lavar encontro uma lesminha ( sinal de que não está coberta de agrotóxicos para matar as pragas ), não me importo a mínima de perceber que minha folhas têm furinhos! Se não tiver orgânico e eu estiver desejosa de minha saladinha, decidi que não vou morrer por lavar como sempre as folhinhas.

Para melhorar, agora não sou mais a única que acha um contra-senso me proteger de bactérias ingerindo...água sanitária! Se elas matam bactérias das folhas, matam as que habitam no meu estômago e intestinos e que estão lá para me proteger, tornando maior a chance de ficar doente por destruir o meu sistema imunológico do que por eventualmente ingerir uma bactéria que meu organismo preparado dará conta de exterminar. Como li em uma deliciosa entrevista de MICHAEL POLLAN no Crianças na Cozinha : "primeiro, coma comida. Depois, não coma nada que sua avó não reconheceria como comida." É isso. Fácil, não?

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