Venho de família italiana (Veneza por parte de pai e Calábria por parte de mãe) e a primeira receita que tenho lembrança de ter participado foi este ragu.
Tinha 8 anos e minha bisa disse que na terra dela existiam muitas maneiras de começar um molho de tomate... e nenhuma delas começava com um abridor de latas! Esta receita era de sua macarronada de domingo, quando todos os filhos, netos, bisnetos, amigos, cônjuges e namorados se reuniam para se sentar à ENORME mesa de alvenaria no jardim, à sombra de gigantescas frutíferas e só sair de lá à noitinha, após uma interminável sucessão de pratos, na mesa dos adultos e na mesa das crianças ( sim, a mesa dos pequenos era separada!).
Mais uma coisa: minha bisa era de uma época em que, aqui no Brasil, a carne moída já era vendida assim, então tinha todo tipo de pelanca, tecido conjuntivo e outras nojeiras junto e, na Itália, ela só tinha o moedor enorme usado para os embutidos, então a carne de peito era picada na ponta da faca.
A farra começava por volta de 9 da manhã: meu tio chegava com CAIXAS de frutas, e as mulheres mais velhas iam para a cozinha começar a ajudar a descascar, picar, temperar e a fazer os petisquinhos (pastéis, lingüicinhas, caponatas, pães...) que saiam da cozinha desde às 11:00 até às 14:00, quando o almoço seria servido.
A bagunça só terminava cerca de 8 da noite, com todos empanturrados e, ainda assim, já combinando o que ia ser feito no próximo domingo, e aceitando de bom grado as sobrinhas caprichosamente arrumadas pela bisa para "mais tarde, quando bater uma fominha..."
Ragú da Julinha
1 Kg. de peito bovino
150 g. de bacon
2 cebolas grandes
250 g. de cenoura
1 salsão
1 Kg. de tomates
1 colher de sopa de açúcar
6 dentes grandes de alho
Louro, salsa, alecrim,
manjericão e manjerona à gosto.
Vinho branco seco.
Deixe a carne em vinha d'alhos (vinho, pouco sal, muito alho, pimenta calabresa, e ervas ) de um dia para o outro.
Em uma panela funda ponha um dedo de azeite e na sua taça, um dedo de vinho. Ponha o bacon para fritar até a gordura desmanchar. Frite a carne até grudar no fundo, dourando sem queimar. Ponha a cenoura em quadradinhos mínimos, refogue um pouco e ponha a cebola em cubos grandes, o alho em lâminas, e o salsão picado pequeno.
Ponha pouco mais da metade do tomate em cubos, com pele e sementes (se quiser tirar as sementes, o tomate perde um pouco da acidez) e a vinha d'alhos e reabasteça sua taça. Ponha o açúcar e cozinhe por cerca de 1 hora em fogo baixo.
Tire a espuma que se formou na superfície ( é ela que deixa o molho ácido), ponha o restante dos tomates até que amoleçam sem desmanchar. Acerte o sal, as ervas e desligue o fogo para que elas não percam o gosto. Sirva com fetuccini.
Serve 5 pessoas famintas.
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